sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O SEGUNDO REINADO

MODERNIZAÇÃO
A segunda metade do século XIX foi um período de transformações na economia brasileira, acompanhada de outras mudanças políticas e sociais.
O centro econômico do país deslocou-se das antigas áreas agrícolas do nordeste para o centro-sul, em função dos cafezais que se expandiam. A produção cafeeira superou a de todos os demais produtos agrícolas, como açúcar, tabaco, algodão e cacau. Nas fazendas de café de São Paulo, o trabalho escravo foi sendo substituído lentamente pelo trabalho assalariado, com predomínio de imigrantes europeus (italianos, alemães etc.).
Parte do dinheiro obtido com a venda do café foi aplicada na industrialização do Brasil. Surgiram inicialmente indústrias de produtos alimentícios, de vestuário, madeireiras etc.
Nas cidades mais importantes, como Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belém e São Paulo, foram surgindo novos serviços públicos: iluminação das ruas, bondes, ferrovias, bancos, teatros etc.

O CAFÉ
O café foi introduzido no Brasil por volta de 1727, mas, a princípio, era um produto sem grande valor comercial, utilizado como bebida destinada apenas ao consumo local.
Entretanto, a partir do início do século XIX, o hábito de beber café alcançou grande popularidade na Europa e nos Estados Unidos, fazendo crescer o mercado consumidor.
O clima e o tipo de solo de muitas áreas do sudeste brasileiro favoreciam amplamente o desenvolvimento da lavoura cafeeira. A mão-de-obra escrava foi deslocada parcialmente para a cafeicultura.
Com todos esses recursos, o Brasil tornou-se em pouco tempo o principal produtor mundial de café, condição que se manteve de 1830 até o final do século XIX.
Os lucros gerados pela exportação do café possibilitaram a recuperação econômica do Brasil, que tinha suas finanças abaladas desde o período da independência, devido à queda das exportações agrícolas e à dívida externa.

O poder dos cafeicultores

Os cafeicultores tornaram-se o grupo mais rico e influente na sociedade brasileira da época, transferindo o centro do poder político e econômico do nordeste para o sudeste do território.
Inicialmente, o café era cultivado na baixada Fluminense e no Vale do Paraíba (que abrangia áreas das províncias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo).
A partir de 1870, as fazendas de café expandiram-se para o oeste da província de São Paulo, onde se encontrava um tipo de solo extremamente favorável ao seu desenvolvimento: a terra roxa. Nessa marcha para o oeste, o café destacou-se em várias cidades paulistas, como Campinas, Sorocaba, Ribeirão Preto etc. Nas fazendas cafeeiras, o trabalho do escravo começou a ser substituído pelo trabalho assalariado do imigrante europeu.

Os primeiros imigrantes
O senador paulista Nicolau de Campos Vergueiro foi o primeiro fazendeiro a trazer imigrantes europeus para trabalhar na cafeicultura. Entre os anos de 1847 e 1857, levou para sua fazenda de Ibicaba, no interior de São Paulo, os primeiros grupos de alemães, suíços e belgas.
Os imigrantes foram contratados pelo sistema de parceria: davam ao proprietário da fazenda uma parte da colheita e ficavam com a outra parte. No entanto, eram enganados e explorados pelos fazendeiros, trabalhando de sol a sol e sendo tratados como escravos. Por isso, muitos deles se revoltaram. As conseqüências foram o fracasso do sistema de parceria e o desestímulo à vinda de novos imigrantes.

CRESCIMENTO INDUSTRIAL
As grandes somas de dinheiro resultantes das exportações do café não foram aplicadas apenas na expansão da própria cafeicultura; em certa medida, também financiaram a instalação de indústrias e a modernização de algumas cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro e São Paulo.
Além do dinheiro da cafeicultura, duas importantes medidas favoreceram o crescimento da indústria: a extinção do tráfico negreiro e o aumento das taxas de importação.

Fim do tráfico negreiro internacional
Em 1850, a Lei Eusébio de Queirós extinguiu o comércio internacional de escravos para o Brasil. Embora desde 1831 o tráfico negreiro estivesse proibido, somente depois de quase 20 anos de conflitos essa determinação legal foi acatada. Mesmo com toda a pressão feita pelos governos ingleses, incluindo ameaças militares, havia grande insistência dos traficantes, que, por algum tempo, ainda mantiveram o contrabando de escravos africanos.
Houve também o crescimento do tráfico negreiro interno: escravos de regiões como o nordeste do país eram vendidos para regiões do centro-sul em expansão econômica, como as áreas cafeeiras de São Paulo.
Com a extinção do tráfico negreiro, a grande soma em dinheiro que era investida nessa atividade passou a ser aplicada em outros setores da economia.


Aumento das taxas de importação
Em 1844, o ministro da Fazenda, Manuel Alves Branco, decretou a cobrança de uma nova tarifa alfandegária sobre os produtos importados.
Até então, o imposto sobre os produtos importados era de apenas 15%. Com a tarifa Alves Branco, a maioria dos produtos importados passou a ser tributada em 30%. Mas se fossem fabricados no Brasil produtos semelhantes o imposto chegava a 60%.
Com o aumento das taxas de importação e o fim do tráfico de escravos, começaram a surgir indústrias, bancos, empresas de navegação, ferrovias, companhias de seguro, mineradoras etc.
Na última década do império (1880-1889), o Brasil já contava com 600 indústrias, que empregavam quase 55 mil operários nos setores têxtil, alimentício, madeireiro, metalúrgico e de vestuário.
No entanto, o crescimento industrial e do setor de serviços não foi suficiente para renovar, de modo profundo, a face tradicional da economia, que ainda se apoiava no latifúndio e na agricultura de exportação.
A industrialização desenvolveu-se principalmente na região sudeste.


A Lei de Terras (1850)
No mesmo ano em que, pela Lei Eusébio de Queirós, foi extinto o comércio de escravos africanos para o Brasil, também foi aprovada a Lei de Terras. Essa lei estabelecia que o meio normal de adquirir propriedade da terra era a compra e não a posse (ocupação) da área.
A Lei de Terras contribuiu para preservar o domínio patrimonial dos velhos fazendeiros, impedindo que a propriedade da terra se desconcentrasse – precisamente no momento da transição do trabalho escravo para o trabalho livre.
A respeito dessa lei, comentou o antropólogo Darcy Ribeiro: Se alguém pretendia ser proprietário, tinha de comprar suas terras do Estado ou do particular, que as tivesse por título hábil. É certo que a lei estabelecia uma exceção: a chamada usocapião. Se alguém pudesse provar diante de autoridade competente, que ocupou continuamente, por 10 ou 20 anos, um pedaço de terra, talvez conseguisse que o cartório o registrasse como sua propriedade. Mas (…) quase ninguém do povo adquiria propriedade por essa via. Em conseqüência, as boas terras do país permaneceram concentradas nas mãos dos antigos proprietários, que puderam fazer de seus filhos e netos outros tantos fazendeiros latifundiários. (Darcy Ribeiro. Sobre o óbvio. In: Revista Civilização Brasileira, n. 1, jul. 1978, p. 15-16 – adaptado).



APÊNDICE
O empreendedor visconde de Mauá

Irineu Evangelista de Sousa (1813 – 1889), barão e depois visconde de Mauá, nasceu em Arroio Grande, Rio Grande do Sul. Foi empresário, industrial e deputado diversas vezes, adquirindo tamanho destaque no surto industrial de sua época que por isso costuma-se chamar Era Mauá a esse período do Segundo Reinado.
Além de empreendimentos particulares, Mauá também se associou ao governo na construção de estradas de ferro, de estradas pavimentadas, além da instalação, e, 1874, de um cabo submarino que permitia a comunicação telegráfica direta entre Brasil e Europa.
Entre os inúmeros empreendimentos liderados por ele e cuja área de atuação atingia vários pontos na América e na Europa, vale destacar: Banco Mauá, MacGregor e Cia. e a Casa Mauá e Cia., atuando no Brasil, na Inglaterra, na França, Estados Unidos e nos países platinos; Companhia de Bondes do Jardim Botânico (Rio de Janeiro); Companhia de Gás do Rio de Janeiro; Companhia de Navegação a Vapor do Rio Amazonas; Estrada de Ferro Mauá; Companhia de Rebocadores a Vapor do Rio Grande do Sul.
Entretanto, em 1878, Mauá faliu em virtude da falta de apoio governamental, da continuada concorrência estrangeira e de pressões financeiras nacionais e internacionais.

Um comentário:

Sávio Archon disse...

valeu mim ajudou muito!!!!!!