domingo, 21 de outubro de 2007

INIC- Trabalho Completo


Inovações técnicas no centro carioca: avenida rio branco e adjacências

Luiz Carlos da Silva Queiroz¹ & Susana Mara Miranda Pacheco²
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Geografia, Rua São Francisco Xavier, 524, luizc_queiroz@yahoo.com.br

Resumo- As inovações técnicas que se processam a partir da abertura da Avenida Rio Branco, rasgando o coração da metrópole, projetaram o espaço para determinadas finalidades, ou seja, atribuíram-lhe funções centrais sugerindo os próximos passos do desenvolvimento capitalista. O presente trabalho tem como objetivo realizar um levantamento das inovações como essência na grande Avenida, complementando informações sobre o centro do Rio e objetivando um maior conhecimento da temática, no que tange ao campo conceitual dos serviços e as inovações técnicas que foram empreendidas no Centro carioca. O procedimento metodológico adotado consistiu em verificar e registrar as principais inovações que ocorreram desde o evento da abertura da Avenida Central (atual Rio Branco), procurando marcar cronologicamente as mudanças que se processaram na organização do espaço mediatizado pela técnica, até meados do século XX. Constatamos a partir dos resultados que essas modificações dotaram-na de equipamentos inovativos e de alcance espacial dantes nunca vista por nenhuma avenida ou rua da cidade do Rio de janeiro, forjando o caráter de grande centralidade e palco das mudanças sociais e econômicas que se processaram até meados do século XX.

Palavras-Chave: Inovações técnicas, produção do espaço, Avenida Rio Branco, centralidade.
Área de Conhecimento: Geografia Humana, Urbana.

Introdução

O trabalho se insere no projeto O Mundo dos Serviços no Centro do Rio: Avenida Rio Branco e Adjacências, implementado desde 2003 pela Profa. Susana Mara Miranda Pacheco e o Grupo de Estudos Terciários do Rio de Janeiro (GETER). O objetivo consiste em confeccionar um Quadro Resumo a partir do levantamento efetuado evidenciando as inovações técnicas que foram empreendidas no Centro carioca, na primeira metade do século XX, reforçando o papel da Avenida na organização do espaço.

Metodologia

O procedimento metodológico adotado consistiu em verificar e registrar as principais inovações que ocorreram desde o evento da abertura da Avenida Central (atual Rio Branco), procurando marcar cronologicamente as mudanças que se processaram na organização do espaço mediatizado pela técnica, até meados do século XX.
A implementação dos objetivos está fundamentada em pesquisa bibliográfica e na utilização de fontes secundárias como artigos e anúncios veiculados na Revista Brasileira de Engenharia, contando também com a consulta ao banco de dados do GETER.
Assim buscamos registrar o período compreendido entre os anos de 1905 a 1955.

Resultados

Inicialmente, as inovações tinham um caráter de infra-estrutura, dotando a área central de equipamentos de base, tais como água, esgoto, eletricidade etc., agora em meados do século XX são de natureza pontual, com enfoque em determinados problemas do ponto de vista da organização e gestão do espaço, como o planejamento do setor de transporte na cidade que crescia de forma exponencial e desorganizada.

Discussão

As inovações técnicas que se processam a partir da abertura da grande Avenida, rasgando o coração da metrópole, projetaram o espaço para determinadas finalidades, ou seja, possibilitaram a veiculação de funções centrais sugerindo os próximos passos do desenvolvimento capitalista. Havia necessidade, de obras segundo a opinião pública, não só do ponto de vista da arquitetura, mas também de saneamento no Rio de Janeiro de então.
O progresso urbanístico na Avenida e adjacências definiu desde o inicio do século o caráter de centralidade percebemos que no início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro recebeu especialmente na área central um conjunto de transformações de cunho aparelhativo, o que os urbanistas de então denominavam de obras de melhoramentos e/ou embelezamento. Na verdade se tratavam de obras de infra-estrutura, tais como o pavimento em asfalto, novidade para a época e a iluminação mista que era composta por gás e eletricidade.
O inicio da eletricidade e iluminação das vias públicas com poste de até cinco luminárias, que permitiram a eliminação dos espaços lúgubres e soturnos, onde a luz natural era a principal responsável pela iluminação. Com a superação da deficiência da iluminação, foi possibilitado a apropriação do espaço correspondendo ao eixo da Avenida Rio Branco, cuja inclusive à noite, possibilitou pulsar a vida cultural, inovada pelos equipamentos de cultura e lazer como os cinemas, teatros e auditórios das rádios. Assim, podemos dizer que a técnica elege o lugar da modernidade e da acumulação capitalista (Santos, 1997).
O novo centro do Rio de Janeiro se torna palco dotado de infra-estruturas que darão suporte às atividades de todas as escalas e tempos possíveis, mas, sobretudo correspondente ao lugar aonde vai se realizar e instalar as atividades hegemônicas, que possuem as relações mais longínquas e participam do comércio e trocas internacionais, fazendo com que o lugar se torne mundial (Santos, 1997). Contudo, do ponto de vista das transformações que se efetuaram, a que mais se fez sentir no modo de vida do carioca, ou seja, as facilidades mediatizadas pela técnica na vida doméstica (os eletrodomésticos), tornaram possível maior tempo ocioso para as atividades do consumo e do lazer. Neste contexto, a Avenida se torna um lugar da moda e do consumo, com instalações de importantes estabelecimentos comerciais, tais como as Lojas de Departamentos e os Magazines com suas vitrines e exposições, um convite ao consumo e, de certa forma, sendo responsáveis pelo glamour de época. Mais uma vez constata-se a inovação técnica modificando hábitos e costumes, agora nos glamurosos anos cinqüenta, com a invasão dos eletrodomésticos, o que facilitou o ganho de tempo para as famílias nas atividades diárias, como o preparo de refeições ou uma simples limpeza do lar: foi o tempo das enceradeiras e batedeiras que otimizaram o tempo entre o preparo e o consumo.
A dinâmica renovadora no âmbito da prestação de serviços, sobretudo no comércio especializado, em suas formas de vender, criou formas de incentivar a aquisição dos produtos com a facilidade do sistema de crédito, o que veio a impulsionar o consumo de diferentes classes que, uma vez inseridas no mercado consumidor, vão buscar essas lojas especializadas, reafirmando assim a atração de lugar central exercida a partir da Rio Branco. Sua capacidade de atração não só se resume a consumidores como também a empresas do setor de serviços que buscam a área central como um lugar privilegiado para localização de seus negócios.
Cabe salientar que o campo teórico-conceitual que fundamenta esta abordagem refere-se à relação espaço-técnica proveniente das idéias produzidas ainda no século XIX, as inovações técnicas chegam com o planejamento urbano na cidade do Rio de Janeiro proclamando novos tempos na dinâmica da urbanização. É nesse âmbito que compreendemos como a Avenida Central (atual Rio Branco) se efetiva pelo plano urbanístico baseado nas idéias de progresso e modernidade vindas da Europa. A construção da Avenida só foi possível pelo domínio das técnicas, assim a técnica produz o espaço (Santos, 1997). Seu caráter inovador permitiu a concentração de bens urbanísticos, conferindo à grande Avenida a condição de modernidade e do progresso inerentes ao contexto histórico. Vale salientar que o processo inovativo se estende ao longo do século, nos diferentes períodos históricos e políticos do país.
A Avenida Rio Branco tem ao longo da sua história concentrado os serviços avançados (de caráter inovativo), o comércio mais especializado e atividades de cultura e lazer, tais como o cinema e o rádio, produzindo impactos nos modos de vida urbana.
A técnica requalifica os espaços, atendendo sobretudo aos interesses da economia e da sociedade. Esses espaços assim dotados de tecnicidades e cientificidades do ponto de vista quantitativo e qualitativo produzem lugares com maior concentração de atividades, sendo denominados de espaços luminosos (Santos, 1997).

Conclusão

Constatamos a partir dos resultados obtidos com a pesquisa que o uso da técnica dotou a Avenida Rio Branco de equipamentos inovativos e de alcance dantes nunca visto por nenhuma avenida ou rua da cidade do Rio de Janeiro, ditando a moda e os costumes na escala nacional, forjando o caráter de grande centralidade e palco das mudanças sociais e econômicas que se processaram até meados do século XX.

Referências
CATANHEDE, L. Pneu Versus Trilhos. Revista Brasileira de Engenharia. Rio de Janeiro. 1937, p.62.
FRANCISCO, Roberta Maria e Silva. Dos Magazins aos Magazines: a especialização das lojas de departamentos na cidade do Rio de Janeiro. Monografia de Graduação, UERJ, IGEO, 2004
PACHECO, Susana Mara Miranda. O Mundo dos Serviços no Centro do Rio: Avenida Rio Branco e Adjacências. Projeto de Pesquisa. UERJ, 2003.
PASSOS, Edison. Melhoramentos do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Engenharia. Rio de Janeiro. 1941, n.73. p.75.
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA. A restauração por que passou o Municipal. Rio de Janeiro. Ano 1934. p. 136.
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA. Noticiário R.B.E. Rio de Janeiro. Ano1937. p.15
ROSA, Ferreira da. A Remodelação do Rio de Janeiro sob a Prefeitura de Pereira Passos. Revista Brasileira de Engenharia. Rio de Janeiro. 1936, n. 22-27. p. 88-92
SANTOS, Milton. Técnica Espaço Tempo: globalização e meio técnico - cientifico informacional. São Paulo, Hucitec, 1997.
TELLES, Pedro Carlos da Silva. História da Engenharia no Brasil Século XX – Rio de Janeiro, Clavero, 1993.
VIANNA, Milton Ferreira. Problemas da Cidade. Revista Brasileira de Engenharia. Rio de Janeiro. 1937, p. 178-9

Nenhum comentário: